No Dia do Trabalhador, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu uma oportunidade histórica de demonstrar compromisso com a verdade e respeito pelos aposentados brasileiros. Em rede nacional de rádio e TV, usou 664 palavras para tentar celebrar seu governo, mas reservou míseras 55 – apenas 8% do total – ao maior escândalo recente envolvendo a população mais vulnerável do país: o assalto bilionário de R$ 6,3 bilhões contra aposentados.
Lula não só tratou o tema com uma frieza perturbadora, como também lavou as mãos de forma covarde. Seu pronunciamento pode ser resumido em duas frases desconexas e insensíveis. Na primeira, repetiu o que qualquer leitor de manchete já sabia há dias, vendendo como conquista do seu governo a descoberta de uma fraude iniciada em 2019. Na segunda, jogou a responsabilidade da devolução dos valores nas costas das entidades sindicais que operaram o golpe – como se o próprio governo não tivesse nada a ver com isso.
O cinismo atinge o ápice quando Lula diz que "desmontou o esquema criminoso", tentando se pintar como herói. O que ele convenientemente omitiu é que o seu governo não apenas herdou o problema, mas o aprofundou. Sob sua gestão, o rombo não apenas continuou, mas ganhou escala. O esquema deixou de ser milionário para se tornar bilionário, e a atuação de servidores públicos ligados ao INSS – subordinados ao governo Lula – mostra que o Estado foi, no mínimo, cúmplice por omissão.
O cenário se torna ainda mais revoltante quando se observa que, em 2019, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei 13.846/19, conhecida como Lei de Combate às Fraudes, que estabeleceu medidas importantes para coibir irregularidades nos benefícios do INSS. Essa legislação criou um programa de revisão de benefícios com bônus para peritos médicos, exigiu o cadastro do trabalhador rural feito pelo governo e restringiu a concessão de auxílio-reclusão apenas aos casos de pena em regime fechado, entre outras ações preventivas. No entanto, essa lei foi posteriormente derrubada pelo Congresso, abrindo espaço para o retorno de práticas fraudulentas dentro do sistema previdenciário.
Mais grave ainda foi o ataque indireto às vítimas. Ao mandar a AGU processar apenas as associações, Lula sinalizou que não pretende mover um dedo para garantir que o dinheiro volte ao bolso dos aposentados. Ignorou deliberadamente o papel de seus próprios indicados que abriram as portas do INSS para a quadrilha. Trata-se de uma tentativa grotesca de terceirizar a culpa e fugir da responsabilidade institucional.
Supervisionado pelo marqueteiro Sidônio Palmeira, o discurso mais se assemelhou a uma peça de campanha disfarçada. Enquanto as palavras de Lula escorriam com uma monotonia embalada por imagens genéricas de brasileiros sorridentes, os aposentados traídos se viam reduzidos a estatística. Nos 98% do tempo em que ignorou o escândalo, o presidente preferiu o conforto dos autoelogios, promessas vazias e a empáfia de quem acredita que a propaganda pode enterrar a verdade.
Para completar o espetáculo da omissão, Lula ainda atrasou em cinco minutos o Jornal Nacional, que, ao contrário do presidente, dedicou quase dez minutos ao escândalo. A verdade, portanto, vazou por onde Lula tentou abafá-la: nas imagens, nos números e na indignação crescente de uma população que não aceita ser enganada.
É o retrato de um governo que, diante de uma tragédia, prefere a encenação à responsabilidade. Um presidente que se omite quando mais deveria agir. E que, neste Dia do Trabalhador, virou as costas justamente para aqueles que mais trabalharam por este país.